Dieta Paleolítica e Dieta Low Carb
A teoria metabólica do câncer - Parte II
CÂNCER: Uma doença metabólica - Parte II
A proposta dessa sequência de artigos. é estudar o câncer sob a perspectiva da teoria de origem metabólica. Mas antes de prosseguir na questão metabólica propriamente dita vamos dar uma rápida examinada na história de pesquisa do câncer e suas terapêuticas. Como já vimos há duas teorias vigentes, e a que mais prosperou a partir da segunda metade do século XX é aquela que imputa à mutações no DNA a causa e alvo para programas terapêuticos oficiais. Vamos então conhecer um pouco desse caminho.
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James Watson |
James Watson, é o autor de um famoso livro de biologia, que realmente trouxe a público uma das descobertas mais importantes para a compreensão da vida. Ele é o descobridor do DNA. Ganhou um prêmio Nobel (1962). Seus achados científicos sobre como se copia as informações hereditárias estão em seu exponencial livro: “A Dupla Hélice” (The Double Helix) de 1968. Participou do mega Projeto Genoma Humano. E um dos projetos filho do PGH, foi a busca de um mapeamento do genoma do câncer - TCGA - ou Atlas do Genoma do Câncer. Esse projeto ambicioso só teve uma razão de existir - a fé científica de que o câncer tinha causa em alterações genéticas - a chamada SMT - ou Teoria das Mutações Somáticas. Watson - que também cometeu terríveis gafes públicas, como quando deu a entender de que os descendentes de africanos teriam menores capacidades intelectuais, fato que ele veio a se desculpar, posteriormente - escreveu em 2009 um artigo no The New York Times: “Para combater o câncer, conheça o inimigo”, algo surpreendente para aqueles que vinham acompanhando a história de compreensão e tratamentos desse conjunto de enfermidades:
Apesar da combinação de quimioterapia direcionada
poder ser um grande passo adiante, temo que nós ainda não
temos em mãos a droga milagrosa que aja isoladamente ou em
combinação que possa estancar o progresso das células cancerígenas metastáticas.
Para desenvolvê-las, poderemos ter que retirar o foco principal de nossa pesquisa
na decodificação das instruções genéticas por trás do câncer
e [direcionar] para a compreensão das reações químicas (metabolismo)
no interior das células cancerosas.
Para os abnegados do corrente dominante isso pode ser comparado ao ato de jogar a toalha no ringue de lutas. Isso seria de fato o combustível que estava faltando para os pensadores alinhados com a Teoria Metabólica do Câncer poderem divulgar para conhecimento público suas (consistentes) ideias sobre o câncer - que datam de há quase 90 anos. Para entender todo esse processo é necessário ter uma visão histórica das pesquisas em oncologia.
O livro que se baseia essa série de artigos é do pesquisador Travis Christofferson - “Tripping over the truth - The metabólica theory of cancer” - lançado no final de 2014, ainda não disponível em português. Um livro com fatos históricos, base bibliográfica farta e um texto excelente. Diferente de outros tantos livros sobre o tema câncer - alguns flagrantemente filosóficos, sofismáticos ou meramente apólogicos, Travis segue o caminho da investigação, dúvida e reflexão.
A contraposição entre as duas teorias científicas - não é uma guerra declarada da posição médica francamente sustentada pelas instituições oficiais americanas, laboratórios de pesquisa associados, empresas de pesquisa diagnóstica e terapêutica, contra outra que não pareceu ser muito produtiva em termos econômicos - uma vez que todos sabem que a pesquisa envolve grandes somas de dinheiro, por exemplo: cerca de três bilhões de dólares - o PGH, de dinheiro de impostos dos americanos, além dos valores vultosos envolvidos com o desenvolvimento de quimioterápicos, e o seu custo para o paciente enfermo. No livro Travis alega que (a quimioterapia) pode se construir de um dos maiores exemplos de desequilíbrios econômicos: valor x custo (valor discutível ou inexistente x custo monetário astronômico).
Os pífios resultados de eficiência (quimioterapia) - mais ou menos estáveis em mais de 50 anos de muito esforço para se chegar ao tratamento mágico - pode ser parte da motivação que fez Watson redigir suas afirmações em 2009.
Um pouco de história - entendendo o caminho
Na primeira metade do século XX já tínhamos algumas compreensões sobre o câncer a partir da observação de cientistas importantes. Quatro nomes podem ser sublinhados a partir de fatos já identificados: o dr Pott, e a ação de químicos carcinogênicos, dr. Rouss e o sarcoma causado por vírus, dr Hansemann e os cromossomos caóticos e, finalmente o dr Otto Walburg com sua teoria metabólica.
Naturalmente o câncer já era conhecimento milênios antes. Já em tempos egípcios se conhecia tumores ósseos e de mama. A visão hipocrática da bílis negra como causa do câncer só foi |
Andreas Versalius |
abandonada no século XVI pelos estudos do anatomista de Bruxelas, Andreas Versalius. Só no século XVIII, vão surgir pistas de causalidade. Um médico italiano Bernardino Ramazzini apontou para o fato de freiras não terem câncer de colo de útero, mas terem maior incidência de câncer de mama. Em 1761 um médico e botânico fez a primeira conexão entre um agente externo e a doença quando publicou o caso de um paciente que teve câncer de narinas por cheirar rapé (tabaco de inalação). Mas foi o dr Percivall Pott (o mesmo do Mal de Pott, problema de coluna provocado pela tuberculose) que melhor desenhou a relação agente externo x câncer, já em 1775. |
Limpadores de chaminés - Londres |
Seus estudos entre os limpadores de chaminé em Londres, o câncer na região escrotal e o resíduo de fuligem estabeleceram de fato uma prova irrefutável da existência de agentes que viriam a ser chamados de carcinogênicos (no caso agentes químicos). O desafio seria descobrir: como? Em 1911 seria descoberto que fatores infecciosos poderiam levar ao câncer. Os estudos de Peyton Rous injetando extratos tumorais (de galinhas doentes) sem células em galinhas saudáveis as deixavam igualmente doentes. Essa foi a demonstração da existência de agentes oncogênicos virais - o Rous Sarcoma Virus. O câncer poderia então ter causa contagiosa.
Antes disso em 1890 um pesquisador alemão teria feito um descoberta marcante no campo das células cancerosas, um aspecto específico do comportamento dos cromossomos (os corpos coloridos descobertos anteriormente pelo pesquisador de Praga, Walther Fleming). Eles perdiam seu comportamento organizado, adotando outro caótico à observação microscópica. Isso o fez descrever: “a conversão de uma célula normal para cancerosa envolve a aquisição de anormalidades intracelulares de seu material hereditário”. Isso seria uma proposta de que os cromossomos seriam os responsáveis pelo crescimento tumoral, e adicionalmente a essa compreensão ele cunhou os termos anaplasia e desdiferenciação - perda de estruturas e funções celulares para formas menos específicas e simplificadas.
Efetivamente, a indiferenciação celular é ainda hoje um dos aspectos mais estudados e avaliados em tecidos tumorais, e de modo geral quanto mais indiferenciado, mais grave é o câncer.
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Ray Peat |
Um pesquisador, Ray Peat, faz uma interessante nota sobre essa particularidade. Em um artigo bastante desafiador, ele pergunta qual a importância da pesquisa de receptores de estrogênio no câncer de mama? Quando uma célula de câncer é positiva para receptor de estrogênio, pode-se inferir que ela é bastante próxima de células normais. Quando mais indiferenciada a célula, mais distinta ela se parece das células originais de um tecido saudável, assim tecidos estrogênio-receptor negativos são muito anormais (provavelmente mais graves). O receptor de estrogênio, é uma proteína comum de vários tecidos normais do corpo humano. Por exemplo células da retina são estrógeno-receptor positivas. Por outro lado, células de tecido mamário, incluindo tumorais, podem normalmente ter outros receptores: para vitamina A, hormônio da tireoide, ocitocina, fatores de crescimento, progesterona, e outros hormônios. Na prática, a indicação positiva para esses receptores (para estrogênio), oferece uma opção terapêutica: o grupos do inibidores específicos de receptores para estrogênio, que tem medicamento protótipo o tamoxifeno. Que vai atuar em todas as células do corpo que tem, a bem da verdade um receptor hormonal normal, ou seja não deve ser por causa da presença desse receptor que deve existir esse tumor (ou concluir assim está tecnicamente errado?). (LINK)
Origens da quimioterapia
Em dezembro de 1943 o tenente coronel James Stewart Alexander foi chamado para uma viagem ao recém bombardeado porto de Bari, sul da Itália, ocupado por tropas aliadas. Houve um incidente que poderia precisar de seus conhecimentos em química. Vários marinheiros que tinham se jogado ao mar para escapar dos navios atingidos emergiam cobertos com um óleo de almágama e odor estranho de alho. A seguir eles apresentavam queimação na pele e cegueira. Oitenta e três morreram. Um dos navios atingidos, SS John Harvey, tinha uma carga proibida: gás mostarda. Foi esse produto que se espalhou na hora da explosão. Mais de 54 toneladas do gás se espalhou pelas cidades vizinhas. Podem ter ocorrido incontáveis mortes. Mas a situação foi tratada com termos de segredo pelo QG dos aliados. O gás mostarda não poderia estar lá!
Mas o que Alexander levou para casa foram amostras de tecidos dos atingidos pelo terrível incidente. Pesquisas adicionais mostram as características resultantes do ataque do veneno no corpo humano: redução drástica nas células brancas do sangue nos gânglios linfáticos e medula óssea. Ele teorizou que o gás mostarda inibia a multiplicação de células que precisam se multiplicar rapidamente. Dois famosos médicos de Yale - Goodman e Gilman - (os mesmos do popular livro texto de fisiologia) propuseram experimentos (ratos) e posteriormente usos terapêuticos desse agente tóxico para pacientes com linfoma. Os resultados desse experimento foram publicados em1946. Uma arma de guerra mortal, por acidente se transforma num dos primeiros tratamentos para um câncer sem opção terapêutica na época.
Só dois anos mais tarde uma substância baseada em pesquisa racional de medicamentos: o metotrexato - inibidor do ácido fólico (vitamina que age como jogar gasolina no fogo de uma leucemia) vai ser empregado em crianças com leucemia (leucemia linfoblástica aguda). Surge o grupo dos antimetabólitos - substâncias que tornariam metabólitos necessários para a divisão celular indisponíveis por introdução de pequenas mudanças (o agente mostarda age direto no DNA). Nesse caminho vem a 6-mercaptopurina e logo em seguida a vincristina. Estamos em 1955. Isso já é fruto do recém criado Centro Nacional de Serviços de Quimioterapia para o Câncer (NCCSC). Outro importante representante dos quimioterápicos anticâncer é um antigo produto químico sintetizado em 1844, mas só introduzido nos protocolos terapêuticos em 1960: a cisplatina.
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Emil Frei |
Mas houve problemas. Os efeitos espetaculares iniciais do gás mostarda eram efêmeros e a doença poderia retornar pior a seguir. E o mesmo parecia acontecer com os medicamentos sucessores. Usar combinações (analogamente à abordagem com vários antibióticos em certas infecções difíceis) poderia ser um caminho mais promissor, os pais dessa abordagem são os pesquisadores Emil Frei e Emil Freireich, e o primeiro acrônimo desse modelo terá a seguinte sigla VAMP! Infelizmente já em 1963, o promissores resultados iniciais receberam um terrível desapontamento: crianças que pareciam ter magnificas melhoras aparecem com quadros neurológicos. A leucemia tinha se escondido no sistema nervoso central…
Desapontamentos nas diretrizes dominantes
A noção dos cromossomos defeituosos vai ficar conhecida como a Teoria das Mutações Somáticas (SMT).
Porém o tempo vai mostrar que os aspectos que poderiam substanciar essa teoria sofreriam várias decepções.
A questão viral levou a descoberta de um gene, chamado de oncogene: o gene scr. Pesquisadores que testaram o scr (Harold Varmus e Michael Bishop) mais tarde descobriram que esse gene, longe de ser um provocador maligno causador de câncer, era na verdade um gene essencial a vida, pertencente ao genoma original (de várias espécies de animais, além dos humanos)!
Tanto vírus como químicos carcinogênicos em realidade fariam o papel de ligadores ou acionadores (turn on) de genes que controlam a multiplicação celular - proto-oncogenes, mas que a rigor já estavam no genoma original. Um aspecto de vulnerabilidade no controle da multiplicação e crescimento celular.
Finalmente, os “cromossomos caóticos” de Hansemann, seriam apenas um manifestação visual (ao microscópio) da alteração do comportamento dos cromossomos subsequente a alguma alteração primária, tendo pouca (ou nenhuma) informação causal a oferecer.
E, em 2010 uma descoberta importante coloca ainda mais em dúvida a consistência da Teoria Somática. E falava diretamente das mutações. O pesquisador Larry Loeb (Universidade de Washigton) publica um estudo sobre variabilidade de mutações em genes e a expressão do câncer. Há um grau muito grande de mutações dentro de um mesmo tumor, e não há como descobrir qual delas poderia ser causadora do processo. Além disso há a mesma heterogenicidade de mutações em tumores iguais de pessoas diferentes! Essa preciosa informação foi talvez o mais importante resultado do inventário TCGA, citado inicialmente - a gigantesca pesquisa que tentou construir um mapa do genoma do câncer e mostrá-lo num modelo de atlas. Um mapa anárquico. Esse pesquisador ilustra a dificuldade da procura de uma mutação inicial como geradora de câncer com a falta de semelhanças das mutações encontradas com as poucas mutações espontâneas conhecidas no DNA humano, que além do mais sofrem a eterna ação de mecanismos robustos e elaborados para previnir e reparar tais situações. Mais de cem genes de reparação foram identificados no nosso genoma.
Como chegar a algum tratamento por alvo especifico (espécie de ideal terapêutico na pesquisa de tratamentos quimioterápicos), se não há nada especifico no final de contas?
Sim, James Watson, o pai do DNA, tinha motivos de sobra para mudar o foco das pesquisas em câncer.
Mas se Hipócrates errou ao falar da bilis negra como causa do câncer, poderia ele estar certo com relação a fazer da comida teu medicamento?
No próximo post vamos conhecer Otto Walburg.
Algumas fontes:
Sobre o Rous Sarcoma Virus: LINK
http://www.singlecausesinglecure.org/author/travisc/
http://www.rsc.org/education/eic/issues/2006Mar/PercivalPott.asp
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