A teoria metabólica do câncer - Parte V
Dieta Paleolítica e Dieta Low Carb

A teoria metabólica do câncer - Parte V


A teoria metabólica do câncer

Mais elementos para configurar as características da questão 


Continuamos com a uma série de artigos a respeito da teoria metabólica do câncer.
Nos artigos anteriores vimos uma pouco da história da pesquisa do câncer.
A rota de pesquisa e consequente abordagem terapêutica tem sido em cima da perspectiva das mutações genéticas, não obstante os resultados muito desoladores, no que diz respeito à mudanças nas expectativas de manutenção e qualidade de vida quando estamos a frente de quadros realmente graves .
Certamente, quando estudamos com mais profundidade o tema podemos levantar algumas dúvidas sobre o que teria levado  a reflexão média ficar aparentemente restrita ao redor dos limites aparentemente óbvios da Teoria das Mutações Genéticas (GMT),  sem integrar outras formas de abordagem.
Parece algo que facilmente poderia ter sido percebido, na medida que uma mera observação de fatos triviais para quem lida com tópicos de pesquisa poderia estender o espectro de possibilidades, seja no campo de compreensão da doença tanto quanto no da terapêutica.
Um exemplo caricatural dessa inquietação reflexiva recai, por exemplo, na rotina de investigação atual do câncer.


PET SCAN E GLICOSE

A afinidade pela glicose das células cancerosas não é nenhuma novidade.
A medicina e seus pesquisadores sabem da insaciável necessidade de glicose pelo câncer há décadas.
O uso de PET Scans para diagnosticar e monitorar o câncer e sua evolução é um documento da importância da glicose para a própria doença. Vamos entender porque.
O que é o PET SCAN?
É um exame que surgiu ainda na década de 70, foi desenvolvido numa universidade americana em St. Louis. Ficou restrito à área de pesquisa até os anos 90.
Inicialmente o problema não estava nos equipamento de detecção, o problema estava na descoberta de algo que favorecesse à detecção. Era fundamental descobrir uma forma de marcar o tecido doente, para distingui-lo do saudável.
Peter Pedersen
A resposta recaiu nas descobertas de Peter L Pedersen sobre a super-expressão da hexoquinase II nas células cancerosas – com subsequente super-assimilação da glicose pelas células tumorais.
O PET SCAN se trata de um exame de alto custo, que tem indicação mais relevante na área de oncologia. É de um tipo de tomografia, que utiliza detectores de radiação gama para fazer cálculos computadorizados, que fornecem uma leitura tridimensional da área corporal avaliada. Essa imagem é obtida pela localização da emissão de pósitrons de radionuclídeos fixados em órgãos do corpo do paciente. Nos estudos oncológicos o elemento radioativo utilizado é o Flúor-18, mais precisamente o 18F-fluoro-2-deoxiglicose (simplesmente chamado de FDG).  Esse sofisticado fruto da tecnologia só funciona porque as células de câncer são ávidas por glicose! O FDG é muito semelhante à glicose, mas tem um átomo de oxigênio trocado por um isótopo de flúor. Assim  o FDG faz o tumor parece um “poste de luz” ao exame.  Simplesmente porque os tecidos cancerosos concentram esse marcador, tornando possível fazer um levantamento da localização e dimensão da origem tumoral  e eventual mapa da dispersão de metástases.
Artigos publicados já em 1977 e 1981 sobre o papel da hexoquinase II e o efeito Warburg, por pesquisadores como Bustamante e Pedersen, contribuíram para o desenvolvimento e utilização do exame de PET/SCAN especificamente para o câncer (Pedersen, 2007).
Em 2011, os pesquisadores Klement e Kämmerer  reafirmam que essa característica de afinidade pela glicose é a base do uso da tomografia de emissão de pósitrons  com o marcador similar à glicose, o FDG.


Certamente o conhecimento do alto influxo de glicose foi uma ferramenta para o desenvolvimento de análogos radioativos da glicose. Um instrumento tão importante que atualmente é – inequivocamente - a melhor maneira de se enxergar o tumor em um organismo vivo, tanto para detecção, estadiamento (configuração do projeto terapêutico) e acompanhamento dos resultados.
Então aqui não estamos exatamente diante de uma novidade. Com certeza a ciência já tem plena noção da avidez pela glicose de células tumorais há algum tempo...
Mas curiosamente é dado para pacientes muito doentes dietas hipercalóricas ricas em... açúcar e maltodextrina! Algo que provavelmente vai alimentar principalmente quais células? Aquelas que estão mais ávidas pelo açúcar! Podem dar seu palpite sobre que tipo de grave equivoco está sendo praticado aos pacientes mais fragilizados pelo câncer. (Amy Berger fala do shake Ensure ofertado para pacientes com câncer que têm 51 gramas de carboidratos, oferecidos para doentes cuja doença se alimenta dos mesmos).
Como já foi considerado em artigo anterior, embora não possamos dizer que o consumo de açúcar necessariamente cause câncer, é possível ser afirmado com boa base em evidências científicas que uma vez iniciado – o câncer – o consumo de carboidratos facilita e sustenta seu crescimento.
Segundo Klement/Krämmerer (2011): “Existem evidências de que taxas cronicamente elevadas de glicose, insulina e IGF-1 facilitam a tumorogênese e pioram o prognósticos de pacientes com câncer”.
Nesse sentido podemos facilmente acompanhar o raciocínio de Amy Berger, a respeito dessa questão em particular: assumindo que possa haver alterações celulares a qualquer momento, que podem levar a formação de células cancerosas, mas que o sistema imunológico, e todos os demais mecanismos auto regulatórios poderiam ser capazes de neutralizar tais alterações, colocar grandes quantidades de glicose no sistema certamente não deve ser muito útil para a eficiência desse equipamento de proteção.
Podemos especular que o problema não seja de fato a criação de células cancerosas. O problema é quando o organismo se torna incapaz de ser eficiente na sua exoneração. Isso é pertinente, pois podemos facilmente concluir que perdemos tempo em tentar buscar a causa do câncer, quem sabe até mesmo na ufanística teoria de mapear a genética do câncer entre membros de uma família - ao invés de compreendermos os processos fisiológicos que estão sendo orquestrados no interior do organismo, e que são pervertidos pelo tipo de ambiente desfavorável que está sendo promovido pelo consumo de carboidratos, (obviamente não desconsiderando a possibilidade de que outros fatores também possam também desequilibrar a homeostase), em favor da eficiência de células cancerosas.




GLUT – OS TRANSPORTADORES DE GLICOSE

A glicose é “importada “para dentro das células por transportadores específicos, abreviadamente chamados de GLUT. Existem vários GLUTs, que recebem números para distinguir suas características fisiológicas. São sintetizadas dentro das células e translocadas para a membrana para “capturar”  glicose e colocar para dentro do ambiente celular – seja para gerar energia no citoplasma ou principalmente – em células sadias pelas mitocôndrias. As GLUTs são estimuladas pela “percepção” de glicose pela unidade celular. Mas duas formas são estimuladas por baixas taxas de glicose, como as GLUT 1 e 3,  sendo que a GLUT3 é cinco vezes mais eficiente para transportar glicose do que as demais. 

Tabela de GLUTs

Porém a forma mais sensível à insulina é a GLUT4. Assim, quando as taxas de insulina no sangue sobem, tipicamente após a ingestão de carboidratos, as GLUT4 são translocadas para a membrana e incorporam glicose. Por isso, também a GLUT4 é predominante nos músculos, no coração (que é um músculo estriado também), e no tecido adiposo. Quando ocorre a resistência à insulina é a GLUT4 que para de responder a esse hormônio e as taxas de glicose começam a permanecer elevadas na corrente sanguínea.
Mais uma vez, de acordo com Klement/Krämmerer (2011): “Está cada vez mais claro que as células malignas compensam seu  déficit energético regulando para cima a expressão de enzimas glicolíticas (HKII, por exemplo) tanto quanto os transportadores de glicose GLUT1 e GLUT3, que tem alta afinidade pela glicose e garantem um grande influxo de glicose mesmo quando há baixas taxas da mesma no ambiente extra celular.”
De acordo com Mathupala/Ko/Pederseon (2010): “Sem surpresa, ambas  (GLUT3 e GLUT4) tem sido demonstradas sobre-expressadas na maioria dos cânceres humanos.  Entretanto, a GLUT1, geralmente presente em todos os tecidos normais, é uma das mais comumente sobre-expressadas isoformas (de GLUTs) nos tumores, se juntando às GLUT3 e GLUT4, (...)”
Não há como negar que a presença marcante de GLUTs nos tecidos tumorais nos leva a crer que a glicose tem que ser muito importante para os mesmos. Provavelmente fundamental. 
Se o PET SCAN marca os tecidos com excesso de glicose e esses mesmos tecidos têm mais transportadores de glicose, não há nada mais natural do que imaginarmos que a limitação do fornecimento de glicose possa interferir de forma reversa no sucesso da tumorogênese. 

Dessa forma, não restando dúvidas de que a capacidade de obter glicose com mais eficiência é uma das características mais importantes do câncer, não seria possível utilizar essa peculiaridade como arma para seu tratamento?
É o que veremos no próximo artigo.

Leia os artigos anteriores da série:
PARTE I
PARTE II
PARTE III
PARTE IV

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Esse artigo é baseado em textos (traduções adaptadas) de Amy Berger e no Livro "Trippng Over the Truth"de Travis Christoffersen. 





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