Dieta Paleolítica e Dieta Low Carb
Açúcar x Gordura - Um programa tendencioso?
GORDURA X AÇÚCAR
Um comentário sobre um quadro do programa Fantástico de 25/05/2014:
Nessa noite de 25 de maio me ocorreu algo raríssimo: estava vendo o início do programa Fantástico que apresentou um quadro sobre alimentação e saúde. Uma comparação entre alimentação a base de açúcar versus gordura. Fiquei até o final do quadro. Ao final algo me parecia errado. Rapidamente fiz uma pesquisa. E descobri o que se segue, que vou compartilhar nesse post.
Chequei ao blog da Zoë Harcombe, que já conheço há anos, pois é do time do THINCS (a rede internacional dos céticos do colesterol criada pelo dr Uffe Ravnskov há mais de uma década).
Ela discorre sobre o programa do canal Horizon, que foi ao ar em Janeiro de 2014, que pela sua descrição é o mesmo que apareceu na noite de hoje.
Primeiramente ela faz uma revelação interessante: os irmão gêmeos do programa dessa noite já tinham participado de um programa da BBC Horizon em 2008. Era um experimento pelo visto mais longo, que os acompanhou em uma viagem para um local frio e distante, Chutkotka (nordeste da Rússia), uma gélida península banhada pelo Mar de Bering. O Chris seguiu a dieta local a base de baleia, morsa e focas, enquanto o irmão Alexander (Xand, o que só comeu gordura no programa apresentado hoje) seguiu uma dieta baseada em alimentos processados do único mercado local com comida ocidental. No resultado final Chris tinha levado a melhor, com sua dieta rica em gordura e proteína e desprovida de carboidratos. Mas vamos falar do programa de hoje e seus viéses não declarados.
Claro que a primeira experiência foi mais real. Uma comparação entre comida de verdade (local) versus comida processada.
No programa de 2014 a experiência é simples, no curto período de um mês, e os irmãos em posições opostas. A proposta era mostrar o que é pior para as pessoas: açúcar ou gordura.
Aparece Amanda Ursell, a nutricionista, que mostra na mesa aquilo que os dois irmãos podem comer. É realmente muito interessante ver Amanda apontar para a mesa de Chris (do açúcar) - explicando que todos aqueles alimentos: "pão, biscoitos, massas, arroz, batatas, cereais matinais, além das frutas e vegetais ilimitados, no final de contas se convertem em açúcar no sangue". E ela está certa. E esse é o ponto principal que os conselheiros de saúde pública simplesmente não captam. Eles estão nos dizendo para reduzir o açúcar, mas aconselhando a comer mais carboidratos. O carboidrato é, ou se decompõe em, açúcar.
No lado da mesa de Xand da mesa tinha queijo, carne, manteiga, hambúrgueres, frango com a pele, creme de leite, maionese, etc. Imediatamente vemos um problema decorrente de uma ignorância em nutrição. Para Xand não é permitido legumes, mas são permitidos laticínios ilimitados - o que, como regra geral, tem cerca de 5 % de carboidratos. Hamburgers invariavelmente têm trigo, amido, farinha de rosca e/ou açúcar. Xand é visto mais tarde no programa com fatias de carne processada, o que invariavelmente contêm dextrose/açúcar e a maionese (a industrializada) invariavelmente contém açúcar, portanto, Xand também poderia ter tido inadvertidamente consumido açúcar/amido.
Zoë comenta então, as questões de performance, tanto no desempenho cerebral como físico:
Há dois problemas fundamentais :
1) O cérebro vai se alimentar de glicose ou cetonas, se a glicose não está disponível. O corpo vai alimentar de glicose ou gordura (dietética ou do organismo) se a glicose não está disponível. É improvável que Xand tenha entrado em cetose ou tenha se nutrido de gorduras do corpo se ele recebeu carboidratos dos produtos lácteos e de carnes e molhos processados. Ou seja: Xand não está recebendo uma oportunidade justa para competir com uma alternativa à glicose.
Veremos nos resultados finais que pelo fato de Xand ter começado com um percentual de gordura corporal de 26,7% e tenha perdido 3,5 kg que ele não estava em cetose. Seria esperado que Xand perdesse esse peso em uma semana, e não em quatro, se ele realmente estivesse em dieta com zero carboidratos, uma dieta cetogênica.
2) É preciso tempo para o corpo se adaptar a cetonas e gordura considerando que a glicose foi prontamente disponível pelos 35 anos de vida do jovem médico. Esperar que Xand se desse bem no novo combustível, contra um irmão que permaneceu com seu combustível preferido por tanto tempo de vida não é justo!
Mas o desempenho não foi o que veio a preocupar o público em geral (no exterior). As duas questões que preocuparam foram:
2) A produção de insulina e diabetes tipo 2.
Zoë examina cada um desses ítens.
Os resultados sobre a massa muscular:
Xand começou em 26,7 % de gordura corporal e Chris em 22,6% de gordura corporal. Ambos muito flácidos - como as fotos mostradas confirmaram. Em aproximadamente 36 minutos de programa, os resultados são compartilhados:
Para Xand é dito que ele perdeu 3,5 kg, sendo 1,5 kg de gordura e 2 kg de músculos. Para Chris é dito que ele perdeu 1kg - alegando-se ser metade de gordura (0,5 kg ) e metade músculo (0,5 kg) .
O BodPod (aparelho empregado) mede massa gorda e massa livre de gordura.
Zoë escreveu para a Horizon inquirindo o seguinte:
Foi dito a Xand "Você perdeu 2 kg de massa muscular e que não é tão saudável."
Por favor, você pode me ajudar a entender baseado em que isso foi dito para Xand? Minha compreensão sobre o BodPod é que ele pode medir a massa gorda e massa livre de gordura. Assim, o programa pode estimar (dentro da precisão do BodPod) qual a quantidade de gordura foi perdida e a massa livre de gordura que foi perdida, mas esse último dado não é tudo músculo. A parte sem gordura irá incluir água, sendo praticamente certo que água será perdida em uma dieta baixa em carboidratos, como o glicogênio será esgotado e a água é armazenada em aproximadamente quatro partes para cada uma de glicogênio.
Estou ansiosa por sua explicação.
Sobre os exames de sangue e a questão da glicose:
O programa repete os exames de sangue feitos no início do experimento - primeiramente o teste de colesterol. Chris narra: "Nós pensamos que, uma vez que Xand estava comendo muita gordura na sua dieta, seus níveis seriam muito mais elevados. O que é surpreendente é que eles eram quase exatamente o mesmos encontrados no início de nossas dietas. Na verdade, havia pouca, ou nenhuma alteração para nós dois."
O teste final foi de insulina - um hormônio que regula os níveis de glicose no sangue. O programa não explicou o que estava acontecendo neste momento, mas parecia que os irmãos estavam fazendo um teste de tolerância à glicose. Isso envolve a ingestão de uma solução de glicose e exames de sangue subsequentes que medem os níveis de glicose e insulina.
O Dr. Richard Mackenzie disse a Chris (o gêmeo carb) "a capacidade do organismo de produzir insulina melhorou." Então, Mackenzie chegou a dizer "Seu corpo provavelmente já está acostumado a lidar com o açúcar, a ingestão de glicose e, portanto, responder com a produção de insulina." Chris fala sobre isso dizendo que "Como eu tenho comido cargas de açúcar tenho tornado melhor a sua gestão." Mackenzie o corrige: "Você aumentou a produção de insulina."
Xand pergunta se isso é bom ou não, e Mackenzie diz que, no curto prazo, é bom, mas no longo prazo pode produzir um problema. E ele não está brincando! A longo prazo, a probabilidade é a diabetes tipo 2. Quando o corpo diz "basta" - Eu não posso lidar mais com essa ingestão de carboidrato/açúcar. Eu não posso continuar a produzir insulina suficiente para trazer a minha glicose no sangue de volta para o intervalo normal e eu não posso fazê-lo com a frequência com que você está jogando carboidratos para mim.'
Então nos voltamos para Xand e ele é informado de que "Seu corpo não está respondendo à insulina, assim como ele fazia. Se você comer muita gordura, pode impedir o seu corpo de responder à insulina [como ?] E também pode dizer ao seu corpo a produzir mais glicose" [novamente como?! ] Mackenzie continua sua advertência [em um tom muito preocupado] "sua glicemia subiu e agora você está quase pré-diabético."
Zoë discute três pontos:
Inicialmente ela lembra da margem de erro de 20% dos exames de glicose.
Mas o mais importante é o seguinte: Xand recebeu essencialmente pouquíssima glicose durante um mês, sendo submetido a um teste de tolerância à glicose, o que lhe oferece uma maciça dose de glicose em um único momento. Para Chris, o carb, não é de se surpreender de ser capaz de lidar com isso (produzir insulina) porque é isso que ele vem fazendo várias vezes ao dia durante um mês. O corpo de Xand vai precisar de tempo para se adaptar de volta à glicose, assim como ele precisava de tempo para adaptar-se longe dela.
Xand de qualquer maneira não estaria pré diabético com as taxas (que foram citadas no programa original apresentado em inglês). (Zöe lembra que a definição dos novos índices de glicose no sangue foram definidos com generosas colaborações de laboratórios interessados da Inglaterra, Alemanha, Dinamarca e Estados Unidos).
Zoë naturalmente concorda com a evidência da conclusão: não comam alimentos processados. Ela diz: - “Comam comida de verdade”. Evite alimentos processados e ponto final. Não apenas as misturas que juntam gordura e açúcar em 50:50, mas os pães, cereais , biscoitos e alimentos ricos em amido. Comida de verdade não contém ambos - com uma exceção: o abacate. A natureza fornece carboidratos/proteínas (todos os alimentos reais que Chris estava comendo) e gorduras/proteínas (todos os alimentos reais que Xand estava comendo).
É óbvia a conclusão de que os fabricantes de alimentos fornecem a combinação sacarose/gordura que é irresistível, irresistível para a engorda - de ratos e seres humanos. É por isso que a comida de mentira deve ser evitada.
Uma das conclusões de Chris foi que qualquer dieta da moda é equivocada. Creio, fortemente, que há algo de suspeito nessa afirmação.
O viés
A BBC deveria ser equilibrada. E Zoë diz que este programa não foi equilibrado e o preconceito contra a gordura está tão arraigado que a BBC pode nem mesmo ter percebido isso .
No teste da corretora o experimento foi presidida pela Professora Robin Kanarek com suas opiniões muito claras - "a glicose é o melhor combustível para o cérebro” ; “a memória será significativamente comprometida, sem carboidratos suficientes na dieta"; "uma dieta rico em carbos irá facilitar a memória" e assim por diante. Zoë lembra outro especialista, Dr. Emily Deans: ”Cetose para o corpo significa queima de gordura (ótimo!). Para o cérebro, isso significa um risco menor para convulsões e um ambiente melhor para a recuperação e reparação do neurônio" Zöe pergunta porque não estavam tanto Kanarek e Dean para proporcionar um equilíbrio?
O experimento corporal (ciclismo) foi presidido por Nigel Mitchell da Team Sky Cycling. Ele prestigia o mingau no café da manhã e afirma que "o seu corpo precisa de açúcar. Ele precisa dos carboidratos". Por que não equilibrar o treino com um Peter Brukner, o treinador vencedor low carb com alto teor de gordura ou o treinador glúten-free do tenista Djokovic?
O programa parece que ficou preso a preconceitos estabelecidos na cabeça da maior parte das pessoas e não tinha como objetivos questioná-los. De acordo com a avaliação de Zoë, a BBC/Horizon cometeu alguns deslizes na produção. Embora tenha deixado claro, pelo menos para a audiência fora do Brasil, que o problema é comer comida processada artificial, deixou um rasto de preconceito contra a dieta low carb/paleolítica, que é antes de mais nada uma alimentação baseada em comida de verdade.
A experiência clínica com pessoas que ficam continuamente com esse tipo de alimentação mostram melhores resultados laboratoriais.
A apresentação do Fantástico não pareceu ter uma proposta reveladora. Pareceu querer amedrontar.
Baseado no texto original encontrado AQUI
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