Saúde Mental e Insulina - Parte III
Dieta Paleolítica e Dieta Low Carb

Saúde Mental e Insulina - Parte III




A insulina e o Alzheimer


Essa é a última parte dessa revisão sobre insulina e saúde mental. Veremos algumas questões que naturalmente vão relacionar o consumo de carboidratos com a doença de Alzheimer, compreendendo a natureza da denominação de Diabete tipo III para essa terrível enfermidade neurológica. 

A insulina no cérebro
Uma notável via de sinalização que afeta a ambos: processos metabólicos e neuropsiquiátricos é aquela mediada pela insulina, um hormônio tradicionalmente discutido no contexto da regulação da glicose no sangue. A desregulação dos efeitos intracelulares da insulina tem sido implicado na patogênese de distúrbios metabólicos e neuropisquiátricos. ( Veja a ilustração abaixo).
O cérebro é um órgão particularmente intenso no consumo de energia; cerca de 25 por cento da utilização total da glicose do corpo é necessário para o funcionamento adequado do cérebro. Mas, apesar dessa alta necessidade de glicose, o cérebro vinha sendo tradicionalmente visto como funcionando de forma independente da insulina. Essa visão, no entanto, foi recentemente colocada sob questão.
A capacidade da insulina de atravessar a barreira sangue - cérebro foi evidenciada  há aproximadamente 40 anos com a observação de que os picos de níveis de insulina circulante aumentam a concentração desse peptídeo no cérebro. Investigadores posteriormente identificaram receptores de insulina, moléculas de sinalização downstream da insulina (sinalização para transcrever, ou sintetizar RNA ou proteínas), e dos transportadores de glicose sensíveis à insulina no sistema nervoso central dos mamíferos, tanto em neurônios e astrócitos (células de suporte) ao longo do cérebro e da medula espinhal, 2 sugerindo que a insulina é necessária para função normal do cérebro. Esta ideia foi suportada por vários estudos e a insulina veio a ser reconhecida como um neuropeptídeo crítico para a neuroplasticidade, neuromodulação, e neurotrofismo.

Um dos papéis da insulina no cérebro é a regulação do comportamento da alimentação. Estudos em roedores tem mostrado que a administração direta da insulina no cérebro inibe a ingestão de alimentos e reduz o peso corporal, enquanto que ratos sem receptores de insulina no cérebro se tornam obesos.(3) Do mesmo modo, a eliminação dos receptores de insulina a partir de neurônios dopaminérgicos no mesencéfalo de ratos resulta em aumento de apetite e do peso corporal,(4)  e a inabilitação de receptores de insulina tipo IRS2 específicos do cérebro faz que ratos também fiquem acima do peso, hiperinsulinêmicos e intolerantes à glicose.(5) Estes resultados sugerem que o ganho de peso (dependente de insulina) é regulado especificamente pela sinalização da insulina no cérebro. Com efeito, a retirada de receptores de insulina do tecido adiposo produz o efeito oposto: a perda de peso.

Além disso, a insulina desempenha um papel importante em circuitos de recompensa mediada por dopamina, que estão envolvidos na motivação, gratificação por recompensa dos alimentos. Estudos em seres humanos têm identificado um desequilíbrio em vários circuitos neuronais de pacientes obesos, afetando aspectos da recompensa, motivação e aprendizagem. Uma nova hipótese postula que a obesidade é uma consequência de um comportamento de adição à comida. (6) Na verdade, a obesidade é caracterizada por deficiência de um receptor de dopamina numa região de cérebro chamado de estriado (Receptor 2 de Dopamina ou D2R). E novas evidências sugerem que os componentes de sinalização mediada pela insulina podem desempenhar um papel fundamental nessa regulação, o que não é um vício .

A injeção de insulina no cérebro de roedores , por exemplo, aumenta a quantidade e a atividade dos transportadores de dopamina na substância negra, uma estrutura do mesencéfalo envolvido na recompensa, adição e movimentação.(7) Ratos tratados com agonistas de dopamina reduz a fome, obesidade e melhora a sensibilidade à insulina.


ALZHEIMER, INSULINA E CARBOIDRATOS

A insulina e vias de sinalização mediada por insulina, também desempenham um papel importante na regulação das funções cerebrais cognitivos e emocionais normais. Vários estudos demonstraram que a insulina pode contribuir para a aprendizagem e memória. Por exemplo, tarefas para aquisição de memória em animais provoca um aumento da expressão de receptores de insulina no hipocampo. Historicamente, o comprometimento cognitivo tem sido associado com a resistência à insulina e diabetes tipo 2 e foi classificado como encefalopatia diabética. Para tomar a situação mais extrema: a obesidade tem sido identificada como um fator de risco para demência. Os indivíduos com a doença de Alzheimer têm uma menor concentração de insulina no seu fluido cerebrospinal e uma maior concentração no sangue do que em indivíduos de grupos controle, ambos os quais indicam um prejuízo no metabolismo da insulina  no cérebro .

Dada esta ligação íntima entre a sinalização da insulina e da função cerebral, não deve ser nenhuma surpresa que o tratamento com insulina em indivíduos com doença de Alzheimer tem produzido efeitos benéficos sobre o desempenho da memória. A infusão sistêmica de insulina também melhora a memória verbal dos pacientes e atenção seletiva. A administração intranasal de insulina provou ser uma outra maneira de facilitar a memória, e em roedores, aqueles que receberam injeções de insulina diretamente no cérebro tiveram melhor desempenho em tarefas de memória. No entanto, ainda não está claro se a insulina tem um efeito direto sobre o funcionamento do cérebro ou se estas alterações são uma consequência de distúrbios no metabolismo da glicose periférica.
As vias de sinalização mediada pela insulina também pode influenciar o resultado do paciente de Alzheimer removendo a substância β-amilóide do cérebro (proteína que compõe as placas características da doença de Alzheimer). O bloqueio de uma enzima de degradação de insulina em pacientes de Alzheimer, também reduziu os níveis de β -amilóide. Além disso, o tratamento com insulina reduz as concentrações no sangue da proteína amilóide precursora, que tem sido implicada no desenvolvimento da doença de Alzheimer. Ainda há pesquisas que mostram que o bloqueio de moléculas de sinalização da insulina no cérebro podem estar relacionadas com aumento dos níveis da tau fosforilada, outra proteína implicada na doença de Alzheimer.

Um artigo publicado no Journal of Diabetes Science and Technology,(LINK) já em 2008 tinha como título: Doença de Alzheimer - o tipo III da diabetes (revisão de evidências), nesse link. Esse estudo associa a deficiência da sensibilidade à insulina e ao fator de crescimento semelhante a insulina (IGF-1) aos modelos de diabetes já conhecidos, o que propõe a denominação de Diabetes tipo III para a doença de Alzheimer. Como o consumo de carboidratos está implicado a modelos validados para a resistência à insulina, vários autores subscrevem que esse tipo de alimentação pode estar relacionado com essa gravíssima enfermidade, que pode então ter uma forma de prevenção ao alcance de qualquer pessoa. 

Em 2013 um artigo publicado online no site do respeitado Medscape tinha como título: “Será a manteiga um super alimento para o cérebro?”. Será que estamos mais próximos de uma total reviravolta nas propostas alimentares para alcançar e manter a saúde? É o que parece e por aqui vamos continuar a publicar artigos sobre esses temas. 





Referências:
1.    R.S. McIntyre et al., “Mechanisms of antipsychotic-induced weight gain,” J Clin Psychiatry,
62 Suppl:23-29, 2001.
2.    J. Havrankova et al., “Insulin receptors are widely distributed in the central nervous system of the rat,” Nature, 272:827-29, 1978.
3.    J.C. Brüning et al., “Role of brain insulin receptor in control of body weight and reproduction,” Science, 289:2122-25, 2000.
4.    A.C. Könner et al., “Role for insulin signaling in catecholaminergic neurons in control of energy homeostasis,” Cell Metab, 13:720-28, 2011.
5.    A. Taguchi et al., “Brain IRS2 signaling coordinates life span and nutrient homeostasis,” Science, 317:369-72, 2007.
6.    N.D. Volkow, R.A. Wise, “How can drug addiction help us understand obesity?” Nat Neurosci, 8:555-60, 2005.
7.    D.P. Figlewicz et al., “Intraventricular insulin increases dopamine transporter mRNA in rat VTA/substantia nigra,” Brain Res, 644:331–34, 1994.

Artigo base: esse link







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