O leite A - uma reflexão
Dieta Paleolítica e Dieta Low Carb

O leite A - uma reflexão



O Leite A
 (Chutando o Balde)
                                                                                                                                                                                                                              José Luiz Moreira Garcia (*) 

       Não é novidade para ninguém que o leite de vaca esteja causando alergia às pessoas. Não estou falando de intolerância a lactose (o açúcar do leite) por falta de lactase (a enzima que digere a lactose), pois esse é um fator mais ligado a herança genética, mas sim de alergia propriamente dita, ou seja, uma reação imunológica gerada pelo nosso corpo a proteínas do leite.
Para explicar esse fenômeno o que não faltam são "profetas de plantão" geralmente oriundos das escolas e vertentes de pensamento naturebas com explicações do tipo: " o homem é o único animal no mundo que toma leite na idade adulta". Essa frase dita e repetida "ad nauseum" por "gurus" nutricionais e até mesmo por alguns médicos desavisados, soa bastante verossímil.
Essa explicação aparentemente correta sempre desafiou a minha modesta inteligência. Me explico: Como descendente direto de ibéricos sou geneticamente equipado para desconfiar de tudo e de todos. O " Hay gobierno ? Soy contra" está intimamente amalgamado no meu DNA.           
Decidi estudar o leite de vaca na evolução da espécie humana. Decidi também estudar a veracidade da afirmação natureba. Logo de cara descobri que o homem é o único animal de toma leite na idade adulta por ser dotado de livre arbítrio.
           Descobri que até pássaros tomam o leite de vaca, passando por cachorro, gato, e o que mais for e até mesmo o próprio gado, se o leite, a eles, for oferecido. Hipótese cada vez mais remota com o preço do leite nos patamares atuais.
         A razão do bezerro/a não tomar leite de vaca após uma  certa idade, é que a um determinado ponto a vaca, sabiamente, dá um “basta!” não mais permitindo ao seu rebento esse privilégio para que o mesmo por si próprio passe a se alimentar de capim, o alimento preferencial para o qual o gado bovino está geneticamente aparelhado para garantir a sua subsistência . Nesse momento a vaca sabiamente passa a hostilizar a própria cria, pois irá necessitar de toda a sua energia para gerar a próxima cria. É apenas mais uma faceta da natureza sábia.
           Descobri, igualmente, que o homem toma leite de vacas há mais de 10.000 anos e que nunca teve problemas de alergia nos últimos 9.900 anos. Descobri também, que o leite de vaca foi fundamental para o desenvolvimento da própria espécie humana, tirando dos homens parte do trabalho diário de obter alimentos, quer pela caça quer pela coleta de alimentos.
           O que estaria acontecendo hoje em dia, então ?
     A resposta pode estar em uma descoberta recente por parte da ciência. Os pesquisadores descobriram que todas as fêmeas, incluindo a mulher, cabra, égua, camela, etc... produzem , no leite, uma proteína denominada Beta caseina A2, mas que, a aproximados 10.000 anos atrás, algumas vacas sofreram uma mutação genética e passaram a produzir também uma proteína denominada Beta Caseina A1. A única diferença entre as duas proteínas é apenas um amino acido na 67ª posição entre 203 amino ácidos que compõem as duas proteínas. A Beta Caseina A1 possui uma histidina enquanto que a Beta Caseina A2 tem uma prolina na 67ª posição.
           Entra uma histidina no lugar de uma prolina, e como a natureza é caprichosa, essa aparente pequena diferença faz com que a proteína seja clivada ( quebrada ) nessa posição dando origem a um peptídeo (parte de proteína) denominado "Beta Caso Morfina A7" por ter uma estrutura química semelhante a morfina.
            É criado no estomago, por meio da digestão ácida, um opiáceo.
         Segundo vários autores, as Beta Caseinas A1 e seu peptídeo, principalmente um denominado Beta Caso Morfina 7 estariam implicadas em uma serie de reações alérgicas.
           Estudos europeus demonstraram estar esse peptídeo associado a casos de autismo, morte súbita e diabetes tipo-1 em crianças e problemas coronarianos, problemas neurológicos e colesterol elevado em adultos.
      Esse fato fez com que os pesquisadores estudassem todas as raças bovinas e descobrissem quais as que produziam uma maior quantidade de leite A1 e A2.
           Uma pesquisa genética de nossos patrícios da USP de São Carlos demonstrou que todas as raças zebuínas ainda  produzem leite A2 na sua quase totalidade ( números bem próximos a 100%), não tendo sido afetadas por aquela mutação genética. Ponto para os criadores de Gado Gir Leiteiro. Além das características já conhecidas de rusticidade e resistência a parasitos externos aparece agora mais essa vantagem, o leite do Gir é não alergênico.
           Nas raças taurinas (européias) apenas a raça Guernsey, que já foi a raça leiteira mais criada no Brasil e infelizmente se extinguiu devido a vários fatores e que agora está aumentando a nível mundial, produz exclusivamente o Leite A2, ficando a raça Jersey em segundo lugar com 75% de leite A2 e 25% de leite A1 alergênico e a raça holandesa com 50% de leite A1 e 50% de leite A2.
        Como em todas as descobertas científicas que colocam em cheque o sistema estabelecido essas descobertas também estão sendo e irão ser combatidas como sempre foram pelos cientistas de aluguel, mídia de aluguel e finalmente por políticos/legisladores de aluguel vendidos aos interesses econômicos contrariados. A título de ilustração vejam o que está acontecendo com a idéia que propõe a utilização de sacolas de supermercados feitas com material biodegradável e vejam os argumentos usados pela industria de plástico poluente para a manutenção da sua sobrevivência.
            Uma outra hipótese nos chama a atenção para o manejo e a alimentação das vacas leiteiras nos últimos 60 a 70 anos. A bem da verdade é bom que se diga que as vacas leiteiras evoluíram comendo capim. São seres pastejadores herbívoros. Deveriam, portanto, se alimentar preferencialmente de capim. Certo ?
           ...................Errado!.
       As vacas leiteiras, hoje em dia,  comem quase tudo menos capim. Vejam por exemplo alguns exemplos de componentes da dieta exótica das vacas leiteiras nos últimos 70 anos:                                                                                                                                               
- Esterco de galinha (proibido mas ainda utilizado na clandestinidade no Brasil)
- Caroço de Algodão                                                                                                           
- Polpa de Laranja ( sub-produto industrial)
- Farelo de Soja
- Uréia, Sulfato de Amônio ( derivados de petróleo)          
- Farinha de Carne ( hoje proibida)                                                         
- Farinha de Penas ( hoje proibida)
           Finalmente após todo esse cardápio indigesto vocês não poderiam ficar surpresos se eu lhes contasse que 80% de todo o Bicarbonato de Sódio produzido nos EUA sejam utilizados na alimentação de vacas de leite.
           Haja Bicarbonato de Sódio !!!!
O homem descobriu um atalho para a pobreza dos nossos solos e ao invés de fertilizar os solos prefere dar aos animais diretamente os sais que na verdade deveriam ser usados como adubos de solo.
Se as duas hipóteses estiverem corretas qual seria a vaca que teoricamente produziria o leite mais  alergênico ?
Exatamente!  A vaca holandesa que produz mais proteína A1 alimentada com a dieta exótica que é utilizada nas fazendas-fábricas que são preconizadas pelo status-quo técnico-científico do chamado agro-negócio, que insiste em tentar reduzir  todas as tarefas biológicas a meros produtores de moeda corrente sem levar em consideração as necessidades fisiológicas de cada espécie animal, isto é , uma dieta altamente acidificante e geradora de problemas já bastante conhecidos de todos os criadores de gado leiteiro, a saber, laminite, indigestão, empanzinamento, abomaso desalojado, baixa longevidade ( vida curta), etc...
Também, não poderiam ficar surpresos se eu lhes disse-se que a média de lactações de uma vaca nos Estados Unidos, a Meca do conhecimento científico e onde todos os técnicos e cientistas brasileiros se espelham, é de apenas 1,8 lactações ou até menos. Não é para menos.
Mas, afinal, quem se importa?
O Status Quo acadêmico-científico nos diz o que é certo e o que é errado e o que conta no fim do dia é produzir mais leite não importando as conseqüências.
Entretanto, vamos admitir por um átimo de tempo que ambas hipóteses poderão estar corretas. A Nova Zelândia já se adiantou a registrar o nome "A2 Milk" e está certificando laticínios ou fazendas que trabalhem exclusivamente com Leite A2 determinado por meio de exame de DNA dos animais do rebanho e normas de manejo que contemplem o livre acesso dos animais ao pasto, luz solar e ar livre dos animais em lactação.
        No mundo todo consumidores conscientes estão demandando alimentos cada vez mais produzidos de forma ecologicamente correta e leite produzido em fazendas-fábricas de gado holandês criado em confinamento (também ironicamente chamado de Free-stall) recebendo dieta exótica e acidificante que produz leite alergênico não é propriamente o que se pode chamar de ecológico e nem de correto ou até mesmo de salutar.
           Asneira ! Non-Sense ! Irão protestar o sistema e as autoridades constituídas.
           O tempo dirá quem está realmente com a razão.
           Da minha parte eu posso lhes garantir que estou trabalhando para ter o meu leite de vacas Guernsey, Jersey e Gir ou giradas que comam preferencialmente pasto ou feno produzidos em solos remineralizados com altos teores de fósforo, cálcio, magnésio e potássio e com teores expressivos de ferro, manganês, zinco, cobre, boro, cobalto e molibdênio e com uma microbiologia ativa para garantir um bom suprimento de húmus que irá se contrapor as secas e estiagens, cada vez mais freqüentes, e gerar plantas mais sadias e nutritivas.
           Talvez um dia, quem sabe, algum consumidor mais exigente irá dar valor ao meu produto. Antes tarde do que nunca !

(*) O Autor é formado em Agronomia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e
tem Mestrado em Bioquímica e Fisiologia de Plantas pela Michigan State University.
Também é criador de Gado Guernsey e Jersey no Sul de Minas.
(Esse artigo me foi enviado há alguns anos e me parece muito pertinente para reflexão...
E tem Permitida sua divulgação na íntegra.)



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